Mas você tem um plano? Não eu tenho um vestido. Em reportagem de capa da edição desta semana, a revista Época celebra a ascensão de um estilo de vida feminino da classe média, que não tem culpa em assumir a compulsão sexual-consumista. Intituladas mulheres modernas pós-feministas, as personagens de Sex And The City, que ganhou adaptação no cinema, se tornaram modelos de um movimento de auto-estima e gastos fúteis elevadíssimos.
Após toda a luta feminista por liberdade, é vergonhoso a mulher do século XXI permitir que sua imagem seja “inventada”, como sugere a revista, por um seriado enlatado com fins claramente comerciais e ideológicos. Quando Carrie (Sarah Jessica Parker) afirma ter prazer em gastar R$485 dólares em sapatos por não ter que comprar fraudas, diabolicamente usa de um discurso convidativo. As mulheres, assim como todos os seres humanos, querem ver seus desejos imediatos satisfeitos, e comprar fraudas dificilmente aí estaria enquadrado. Por que é tão vantajoso glorificar as vontades? Porque nada é mais irracional que o anseio de ter, que na sociedade moderna necessariamente implica em consumir.
Nada é gratuito em Sex And The City, nem na reportagem da Época. Em sua generosa missão civilizatória de transpor a cultura americana em terras verde e amarelas, a revista não poderia deixar de comparar as dondocas novaiorquinas com paulistanas bem resolvidas. São Paulo, como sempre, é espelho de Nova Iorque. A estratégia de distribuir os papéis para “mulheres de verdade” pula algumas etapas na identificação com o público feminino e vai direto ao que interessa: qual das quatro você é? Ou, se preferir, qual das quatro você tem que ser?
Carrie, que não é a estranha, é um pôster publicitário da multi-bilionária indústria da moda. Fútil? Não, apenas mulher. Isto é o que você, leitora, deve pensar. Relacionar a insana compulsão por roupas caras à natureza feminina é um insulto a sua inteligência. Samantha, “muleca-piranha”, pensa como os “homens”, reduzidos a meros animais no cio. Maquia-se porém com uma feminilidade que caracteriza-se por muito dourado e saltos altíssimos, como explica a revista, que comemora a relação amorosa da personagem com outra interpretada por Sônia Braga. Brasil-sil-sil! Independente e mãe solteira, a workaholic Miranda teme terminar como uma medíocre mulher de família, com um marido e um cachorro. Charlotte é tida como o limite do pudor na série, apesar de deitar-se com metade da cidade. Acredita no amor ainda que afirme que orgasmos não mandam bilhetes nem seguram a mão no cinema – frase selecionada pela reportagem.
Quem não se identificar com nenhum dos quatro esteriótipos não deve se decepcionar. A revista indica cuidadosamente como cada uma se veste e pensa, para que não seja difícil o “upgrade”. A reportagem dedica a longevidade da série à capacidade de formular as perguntas certas e relevantes que as mulheres devem fazer: Devo telefonar para ele ou esperar? Ter filhos ou comprar sapatos?
Solteira, com mais de 30 anos, urbana, bem sucedida, consumista, sexualmente ativa e na moda. Esta não só é como deve ser a mulher moderna, na visão do seriado e da revista. Se você tem dívidas no cartão, sobre-peso, uma casa no subúrbio, um sub-emprego ou um marido que vê o jogo todo domingo, não atende aos pré-requisitos necessários para ser uma mulher feliz no século XXI, apesar de sofrer com todos os contratempos contemporâneos. A realidade de Sex And The City é precisa, mas não é a mesma das milhões de mulheres brasileiras que freqüentam lojas de departamento e compram fraudas. Se o público-alvo da reportagem foi as quatro personagens da série e suas seguidoras egoístas e esquizofrênicas, a revista está mais in do que nunca.
Após toda a luta feminista por liberdade, é vergonhoso a mulher do século XXI permitir que sua imagem seja “inventada”, como sugere a revista, por um seriado enlatado com fins claramente comerciais e ideológicos. Quando Carrie (Sarah Jessica Parker) afirma ter prazer em gastar R$485 dólares em sapatos por não ter que comprar fraudas, diabolicamente usa de um discurso convidativo. As mulheres, assim como todos os seres humanos, querem ver seus desejos imediatos satisfeitos, e comprar fraudas dificilmente aí estaria enquadrado. Por que é tão vantajoso glorificar as vontades? Porque nada é mais irracional que o anseio de ter, que na sociedade moderna necessariamente implica em consumir.
Nada é gratuito em Sex And The City, nem na reportagem da Época. Em sua generosa missão civilizatória de transpor a cultura americana em terras verde e amarelas, a revista não poderia deixar de comparar as dondocas novaiorquinas com paulistanas bem resolvidas. São Paulo, como sempre, é espelho de Nova Iorque. A estratégia de distribuir os papéis para “mulheres de verdade” pula algumas etapas na identificação com o público feminino e vai direto ao que interessa: qual das quatro você é? Ou, se preferir, qual das quatro você tem que ser?
Carrie, que não é a estranha, é um pôster publicitário da multi-bilionária indústria da moda. Fútil? Não, apenas mulher. Isto é o que você, leitora, deve pensar. Relacionar a insana compulsão por roupas caras à natureza feminina é um insulto a sua inteligência. Samantha, “muleca-piranha”, pensa como os “homens”, reduzidos a meros animais no cio. Maquia-se porém com uma feminilidade que caracteriza-se por muito dourado e saltos altíssimos, como explica a revista, que comemora a relação amorosa da personagem com outra interpretada por Sônia Braga. Brasil-sil-sil! Independente e mãe solteira, a workaholic Miranda teme terminar como uma medíocre mulher de família, com um marido e um cachorro. Charlotte é tida como o limite do pudor na série, apesar de deitar-se com metade da cidade. Acredita no amor ainda que afirme que orgasmos não mandam bilhetes nem seguram a mão no cinema – frase selecionada pela reportagem.
Quem não se identificar com nenhum dos quatro esteriótipos não deve se decepcionar. A revista indica cuidadosamente como cada uma se veste e pensa, para que não seja difícil o “upgrade”. A reportagem dedica a longevidade da série à capacidade de formular as perguntas certas e relevantes que as mulheres devem fazer: Devo telefonar para ele ou esperar? Ter filhos ou comprar sapatos?
Solteira, com mais de 30 anos, urbana, bem sucedida, consumista, sexualmente ativa e na moda. Esta não só é como deve ser a mulher moderna, na visão do seriado e da revista. Se você tem dívidas no cartão, sobre-peso, uma casa no subúrbio, um sub-emprego ou um marido que vê o jogo todo domingo, não atende aos pré-requisitos necessários para ser uma mulher feliz no século XXI, apesar de sofrer com todos os contratempos contemporâneos. A realidade de Sex And The City é precisa, mas não é a mesma das milhões de mulheres brasileiras que freqüentam lojas de departamento e compram fraudas. Se o público-alvo da reportagem foi as quatro personagens da série e suas seguidoras egoístas e esquizofrênicas, a revista está mais in do que nunca.
*imagem retirada de wildaboutmovies.com