quarta-feira, 22 de outubro de 2008

O Mito e a Mídia

Ao buscar novidades sobre o caso Eloá na internet, surpreendi-me com o primeiro dos resultados. Eloá, do Hebraico, Deus. O acaso pareceu sinalizar que era hora compartilhar com os demais internautas algo que vem me inquietando e que, provavelmente, já deve ter sido tema de crônicas em algum lugar da web.

Uma das mais célebres histórias da Grécia Mitológica é a juventude interrompida da bela deusa Perséfone, também chamada de Cora ou Coré. Filha de Deméter, mãe da fertilidade e da Agricultura, e de Zeus, rei dos deuses, a jovem divindade encantou Hades, o rei do Mundo Inferior. Ao ver a impossibilidade de seu amor, o poderoso deus, em um momento de desespero, raptou Perséfone e a levou consigo ao Érebro, terra posterior ao Rio Aqueronte, onde os mortos encontravam seu destino eterno.

Muito se fez para que Perséfone fosse salva. As negociações beiraram uma guerra entre os Deuses do Olimpo e Hades. A tristeza de Deméter varreu as lavouras, matando até os últimos ramos das plantações. O impasse ultrapassou as fronteiras familiares e envolveu todos, causando um desabastecimento geral na Grécia. Quando viu iminente sua derrota, Hades deu à Perséfone uma romã. Uma única mordida na fruta amaldiçoada prendeu a Deusa ao submundo para sempre, frustrando as esperanças de sua mãe.

Vendo o caos no campo, a fome do povo, e a depressão de Deméter, os deuses mediaram um acordo entre Hades e a deusa da agricultura. A proposta consistia num movimento pendular que Perséfone faria anualmente. Passaria seis meses com seu marido, no submundo, e seis meses com sua mãe, no Olimpo. Como conseqüência do trato, vieram as estações do ano. Quando Perséfone voltava do submundo, tornava-se novamente a jovial Cora. A alegria intensa de sua mãe gerava a primavera, eufórica e florida, e o verão, fértil e caloroso. Ao partir mais uma vez, o clima entristecia, as folhas caíam e iniciava-se o outono. A distância da filha esfriava o coração de Deméter até que ela retornasse, pondo fim ao inverno. Ao lado do marido, que aprendeu a amar, chamava-se Perséfone, como ficou mais conhecida, e ocupava a sombria posição de rainha dos mortos.

Eloá é, hoje, o mito moderno da juventude interrompida. Seu drama, comoveu seu povo, não por meio da agricultura, mas através da mídia. O fim de sua história, contudo, não foi harmônico. Com a exploração das imagens, indemberg e Eloá incorporaram novos espelhos de vilão e vítima, fizeram o brasileiro do século XXI pensar o amor como o helênico anterior a era cristã o pensara. Homenagens foram e são prestadas às jovens. Ao invés de vasos de cerâmica e templos, perfis do orkut e vídeos no youtube. No lugar da deusa, a jovem bonita, alegre e fotogênica. Em substituição aos dramáticos contadores de história, os igualmente teatrais jornalistas.

Assim como a deusa, Eloá deixa o mundo dos vivos, porém em um caminho sem volta. triste história de Perséfone trouxe como resultado a nova organização climática, o replanejamento da agricultura e a harmonia divina. E o seqüestro de Santo André, que heranças deixará?

*Imagem retirada de jornale.com.br