segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Boa Idéia da China

08/08/08, dificilmente esse dia será esquecido nos próximos anos. Após uma escandalosa cerimônia de abertura, a China deu início não somente às Olimpíadas, mas também a sua principal estratégia de promoção internacional. Ainda mais impressionantes que o início foram o desenrolar e o desfecho do evento. As 51 medalhas de ouro mostram que o projeto Pequim 2008 foi uma boa idéia.

Os atletas dos mais de 200 países que competiram nas inúmeras modalidades lutavam por realização pessoal, por conquistas que tornariam gloriosa uma trajetória de privações e determinação. Os chineses se comportavam de outro modo, tinham uma obstinação militar, quase que um dever para com seu governo. Nem a tão aclamada ideologia do sucesso individual dos americanos foi capaz de pará-los. Enquanto os outros países eram representados por seus esportistas, a China era defendida por “soldados” de todas as minorias étnicas, desde a quase impúbere ginasta Yang Yilin até o campeão de levantamento de peso Hui Liao.

O Projeto 119, que considerou as provas em que os chineses detinham chances de vitória, começava cedo, ainda nas escolas. Crianças que se destacavam na educação física eram selecionadas, separadas da família, e enviadas a centros de treinamento. Cerca de 185 mil jovens se prepararam em 1.800 pólos, gerando 20 mil atletas com potencial olímpico, de acordo com a revista Época. Imagine todas as pessoas que passam pela Marquês de Sapucaí em uma noite de desfiles com sete escolas, pois bem, é mais ou menos isso.

Seguindo as linhas Soviética e Cubana, a China viu no esporte um modo de aumentar a auto-estima da população e, ao mesmo tempo, ganhar visibilidade internacional. Deu certo. Apesar dos “poréns” que foram levantados pela imprensa internacional durante todo o período dos jogos, a imagem do regime é melhor agora que antes da competição. Ficou a impressão de que na China tudo funciona.

Quem leu um pouco além das notícias esportivas que se referiam a Pequim sabe que não foi bem assim. Imbuídos do espírito olímpico os chineses proibiram manifestações, ou melhor, restringiram os locais hábeis e exigiram permissão do governo. O que se viu foram protestos frios, sem visibilidade e autenticados em três vias. Reza a lenda que uma parte da população não teve acesso a certos locais da cidade e que nem todos os que quiseram ver os jogos puderam viajar de outras partes da China para a capital. O antigo hábito de cuspir na rua também foi vítima da vaidade governamental. Ao contrário do prometido, a censura não cessou durante as Olimpíadas.

Tais detalhes, porém, passaram quase despercebidos diante do brilhantismo arquitetônico de estádios como o Ninho do Pássaro e o Cubo D’Água. A vila olímpica de altíssimo nível impressionou até os atletas de países desenvolvidos, e o céu, forçosamente azul, surpreendeu os espectadores. A aparente limpeza atmosférica foi efêmera, fábricas foram fechadas durante o evento. Agora que os jogos acabaram, Pequim voltará ao normal, pelo menos é nisso que quer acreditar o regime.

Prepotentes, os americanos afirmam que após experimentar “dias de ocidente”, os chineses passarão a ser mais críticos e exigentes. “A democracia virá como resultado da troca cultural entre os países desenvolvidos e a nova potência”, mentalizam os líderes do G7.

O contrário pode estar acontecendo. Com o sucesso dos jogos, o regime fortalece sua popularidade, engrossa o nacionalismo e aponta para um novo método de obter sucesso, não mais o balizado por um conjunto de sucessos pessoais, mas o que é fruto de um planejamento estatal, que nem sempre respeita o indivíduo, valor máximo do ocidente. Vale olhar para o crescimento econômico, que por muitos anos se sustentou sobre massas mal remuneradas que atraíram empresas com sede de humanos sem direitos. Hoje, são os desenvolvidos que enfrentam problemas por sua mão-de-obra cara. Talvez um novo modelo tenha esteja prestes a saltar sobre o século XXI, um que busque recordes produtivos eliminando cada vez mais o “atrito humano”. Especula-se muito, mas não se sabe ao certo o que nasceu no Ninho do Pássaro.