quinta-feira, 20 de março de 2008

Sem Favoritismos

Como intermediário financeiro, o banco é uma das instituições mais poderosas e fundamentais para a manutenção do estilo de vida da sociedade contemporânea. Grande parte do que se produz e do que se poupa vai parar nos espaços virtuais que concentram a esmagadora maioria da riqueza mundial. Mais que administradoras, essas corporações são detentoras e multiplicadoras de capital. O que pensar, então, da aprovação de um pacote emergencial de socorro a um dos maiores bancos americanos? Crise? Elementar meu caro Bush.

Nesta semana, o presidente americano deu mais uma prova da habilidade que possui para dialogar com a mídia. Poucos dias depois de o governo dos EUA destinar bilhões para a cobertura do rombo causado pela venda do Bears Stearns por um preço bem abaixo do mercado, Bush declarou que a crise financeira vivida pelo país não é grave. Obviamente, o poder de fogo do “war president” foi nulo.

O mercado entendeu imediatamente o que significa um governo republicano intervir na economia. Conservadores e defensores do neoliberalismo até as últimas conseqüências, os antecessores do texano não cederam a uma intervenção direta nem na crise de 29. Em um quadro de competição e busca pela otimização dos lucros, a participação do Fed na compra do quinto maior banco dos Estados Unidos é um fato preocupante. Um comportamento atípico na filosofia do capitalismo yankee.

O quarto colocado na lista pode ser a próxima vítima. O Lehman Brothers enfrenta dificuldades e já mostra que possivelmente anunciará mais prejuízos. A queda de 48% das ações, em um único dia, comprova. Desde que o Citigroup contabilizou perdas bilionárias no início do ano, grupos americanos e europeus tiveram seus lucros devastados pelo terremoto que se tornou a crise do subprime. Os EUA podem até não entrar em recessão, mas já é certo que a época das vacas gordas foi para o brégio. Parece que o capitalismo não tem favoritos.

Diante de um inimigo invisível, Bush treme. A única arma que pode usar agora é a competência. Ele não entende de sutilezas. Não se conforma com a impossibilidade de bombardear a crise e pronto. Invadir o território da economia é algo complexo demais para o presidente. Invocar o nome de Deus para pedir dinheiro também não vai ajudar, ele não concede empréstimos. Os EUA gastaram trilhões na guerra contra o terror, e agora tem mais um motivo para se aterrorizar.

No Brasil, Mantega e Lula apostam na segurança da economia nacional. Há ressalvas. Em um mundo de integração e interdependência financeira, é impossível afirmar até que ponto o aprofundamento da crise lá pode, ou não, estender-se do lado de cá. Por mais que não nos atinja diretamente, muitos países embarcarão na penúria. Provavelmente o enfraquecimento das exportações será o primeiro indício. Fuga de investimentos também deve ser esperada, ninguém investe em emergentes em um quadro de insegurança global.

Perdidos na própria cartilha, os americanos devem se perguntar como logo eles foram pegos pelas armadilhas do capitalismo. Tão competentes, qualificados, organizados e ambiciosos, porém agora diante de um problema que poderia ter se resolvido tão facilmente, caso a compulsão não transcendesse os limites lógicos. Ironicamente, foram derrubados pelo consumo, força que move sua economia e cultura. As compras compuseram a rotina, a ética, a moral e até o próprio território nacional. No país onde cidadão e consumidor são sinônimos, a dívida não é só com os bancos. A crise é de valores.

Um comentário:

André Ramalho disse...

Elementar meu caro
O Neoliberalismo é um filho crescidinho que se acha independente e autonomo
mas que, basta o cerco apertar, corre logo pra mesada do papai