O povo é uma merda. A sociedade instiga reflexões céticas. Bandido bom é bandido morto. Foucalt elabora teses coerentes sobre o sistema penal. Não corte a melancia. A protuberância lombar desta mulher é libidinosa. Político é tudo ladrão. A incoerência ideológica da política brasileira nos tira a fé na democracia. Álcool? Todo dia é dia. Biodísel? Desde que não interrompa o combate à fome. Já que é pra votar, que seja no que asfaltou a minha rua. Analfabetos são massas bovinas.
Circulada por reiterações cíclicas, a sociedade brasileira escava cada vez mais fundo o abismo entre o ignorante e o intelectual. Se um vê o mundo e parte das opiniões gerais para ter a sua, o outro elabora a suas sínteses críticas balizando-as em análises acadêmicas. Qual é a diferença? Um é prosaico, avalia pura e simplesmente o que vê, toma posição com base nos seus sentimentos imediatos e impõe sua visão sem saber qual é. O outro é prolixo, vê pura e simplesmente o que avalia, sofre com a incapacidade dos demais em acompanhá-lo, mas é incapaz de adaptar seu discurso de forma acessível.
Quando vê um assassinato, o prosaico logo se enfurece. Não aceita. Não quer motivos, só castigo. Não quer vagabundo na rua. Acha um absurdo a lei. Pra que? Não dá vontade de matar um bandido? Que mate, é bandido. É passional. É dominado por desejos primitivos e descontrole das emoções em um ambiente hostil. Identifica-se erroneamente com a extrema direita. Quando vê a corrupção, nem se incomoda. Quando lê textos bizarros no jornal, acha graça. Ao ver que a mídia pensa como ele, se orgulha. O prosaico se acha direto, e vê no prolixo um alienado incapaz de ver o mundo em que vive.
O prolixo apura causas e efeitos. Desata teorias e arquiteta modelos estruturalistas. Constrói uma realidade para sua análise, e não o contrário. Critica a objetividade, mas subjetiva tanto que plana sobre bolhas de sabão que estouram com o badalar dos relógios derretidos de Dali. Não lhe ocorre limpar a sujeira, só dizer o quanto está sujo. Lamenta a pobreza, a ignorância e a desigualdade. Até chora. Tem compaixões reais, mas contenta a consciência com a crítica. Idolatra mitos, mas mistifica um mundo onde os homens são simples de tão complexos. Criminoso? Família sem estrutura. Corrupto? Coersão social. Prosaico? Inculto.
O primeiro credita mérito apenas à experiência. Valoriza a força da prática, em detrimento da “irrelevância da teoria”. Casa dois mais dois sendo quatro para tudo, e arredonda se for preciso. Tem fé em Deus, e pé na tábua. Seja Deus o bolso que ele enche de dinheiro, e a tábua, o caminho esburacado que usa para chegar em casa. O prosaico sempre é pobre. Leia-se pobreza a falta de poder aquisitivo para comprar cultura, a falta de sensibilidade para se compadecer do próximo, ou a falta de inteligência para compreender o que lhe soa complexo. Executivos, professores universitários, líderes religiosos e policiais podem estar na mesma classe sem muitos problemas.
O segundo tenta fugir do óbvio. Pensa em algo que não foi dito utilizando tudo aquilo que já lera. Incorre em incoerências, e depois, sem poder eliminá-las, as louva como a beleza da vida. Cultua as diferenças e a tolerância, mas não admite que opiniões destoantes do costumeiro e limitado círculo dos grandes autores sejam veiculadas, ainda que defenda a liberdade de expressão. Legitima o direto de autoridade, mesmo estando ele na democracia de idéias. Defende a educação universalizada, mas não compartilha seus conhecimentos com um universo maior de ouvintes e leitores. Cultiva sua aparência original com acessórios e roupas exóticas, que lhe conferem moral acadêmica e ridicularização popular. Sua casa amontoa livros e filmes, aos quais, assistir uma única vez já é o bastante. Mais vale um Nietczche na mão do que dois voando pelas bibliotecas escolares. Este grupo é menos variado, vai de Nerds arrogantes e autistas a intelectuais esquizofrênicos, o que pode incluir ainda bem-intencionados e homens de fé.
O antigo equilíbrio de forças entre os prosaicos e os prolixos sede espaço a um cenário em que estes perdem terreno precioso. O Brasil aprende cada vez mais a ignorar intelectuais e teóricos, marginalizados em suas teses. Os atuais formadores de opinião muitas vezes dizem aquilo que se quer ouvir, o que parece óbvio e irracional. É claro que utilizam um instrumental eficiente que lhes confere persuasão irresistível. Muito disso é culpa dos próprios prolixos que não foram capazes de construir pontes entre sua estrutura cognitiva e a realidade que, algumas vezes, é de fato objetiva. O crédito maior vai, como sempre, para o pensamento mercadológico, ao qual a opinião chata e contrária à vontade do público é desinteressante.
Algo no prolixo precisa ser resgatado. Reciclado. Algo, ou quase tudo, no prosaico deve ser extirpado. O homem capaz de construir um mundo equilibrado deve ter a capacidade de ir além do que se vê, mas tem que ser apto a fazer com que os demais vejam o que ele enxerga. Tem que refletir as decisões, mas deve tomá-las. Não deve se restringir ao mundo das idéias, nem ao das emoções imediatas. Não há nada de novo neste discurso. Platão profetizava que o homem ao escalar a caverna e atingir a luz, deveria voltar à escuridão e retirar os demais das sombras ilusórias. Mais difícil que ascender à luz seria imergir novamente nas trevas. Quanto a isto não há dúvida: a salvação não está ao alcance do prosaico, somente do prolixo.
Circulada por reiterações cíclicas, a sociedade brasileira escava cada vez mais fundo o abismo entre o ignorante e o intelectual. Se um vê o mundo e parte das opiniões gerais para ter a sua, o outro elabora a suas sínteses críticas balizando-as em análises acadêmicas. Qual é a diferença? Um é prosaico, avalia pura e simplesmente o que vê, toma posição com base nos seus sentimentos imediatos e impõe sua visão sem saber qual é. O outro é prolixo, vê pura e simplesmente o que avalia, sofre com a incapacidade dos demais em acompanhá-lo, mas é incapaz de adaptar seu discurso de forma acessível.
Quando vê um assassinato, o prosaico logo se enfurece. Não aceita. Não quer motivos, só castigo. Não quer vagabundo na rua. Acha um absurdo a lei. Pra que? Não dá vontade de matar um bandido? Que mate, é bandido. É passional. É dominado por desejos primitivos e descontrole das emoções em um ambiente hostil. Identifica-se erroneamente com a extrema direita. Quando vê a corrupção, nem se incomoda. Quando lê textos bizarros no jornal, acha graça. Ao ver que a mídia pensa como ele, se orgulha. O prosaico se acha direto, e vê no prolixo um alienado incapaz de ver o mundo em que vive.
O prolixo apura causas e efeitos. Desata teorias e arquiteta modelos estruturalistas. Constrói uma realidade para sua análise, e não o contrário. Critica a objetividade, mas subjetiva tanto que plana sobre bolhas de sabão que estouram com o badalar dos relógios derretidos de Dali. Não lhe ocorre limpar a sujeira, só dizer o quanto está sujo. Lamenta a pobreza, a ignorância e a desigualdade. Até chora. Tem compaixões reais, mas contenta a consciência com a crítica. Idolatra mitos, mas mistifica um mundo onde os homens são simples de tão complexos. Criminoso? Família sem estrutura. Corrupto? Coersão social. Prosaico? Inculto.
O primeiro credita mérito apenas à experiência. Valoriza a força da prática, em detrimento da “irrelevância da teoria”. Casa dois mais dois sendo quatro para tudo, e arredonda se for preciso. Tem fé em Deus, e pé na tábua. Seja Deus o bolso que ele enche de dinheiro, e a tábua, o caminho esburacado que usa para chegar em casa. O prosaico sempre é pobre. Leia-se pobreza a falta de poder aquisitivo para comprar cultura, a falta de sensibilidade para se compadecer do próximo, ou a falta de inteligência para compreender o que lhe soa complexo. Executivos, professores universitários, líderes religiosos e policiais podem estar na mesma classe sem muitos problemas.
O segundo tenta fugir do óbvio. Pensa em algo que não foi dito utilizando tudo aquilo que já lera. Incorre em incoerências, e depois, sem poder eliminá-las, as louva como a beleza da vida. Cultua as diferenças e a tolerância, mas não admite que opiniões destoantes do costumeiro e limitado círculo dos grandes autores sejam veiculadas, ainda que defenda a liberdade de expressão. Legitima o direto de autoridade, mesmo estando ele na democracia de idéias. Defende a educação universalizada, mas não compartilha seus conhecimentos com um universo maior de ouvintes e leitores. Cultiva sua aparência original com acessórios e roupas exóticas, que lhe conferem moral acadêmica e ridicularização popular. Sua casa amontoa livros e filmes, aos quais, assistir uma única vez já é o bastante. Mais vale um Nietczche na mão do que dois voando pelas bibliotecas escolares. Este grupo é menos variado, vai de Nerds arrogantes e autistas a intelectuais esquizofrênicos, o que pode incluir ainda bem-intencionados e homens de fé.
O antigo equilíbrio de forças entre os prosaicos e os prolixos sede espaço a um cenário em que estes perdem terreno precioso. O Brasil aprende cada vez mais a ignorar intelectuais e teóricos, marginalizados em suas teses. Os atuais formadores de opinião muitas vezes dizem aquilo que se quer ouvir, o que parece óbvio e irracional. É claro que utilizam um instrumental eficiente que lhes confere persuasão irresistível. Muito disso é culpa dos próprios prolixos que não foram capazes de construir pontes entre sua estrutura cognitiva e a realidade que, algumas vezes, é de fato objetiva. O crédito maior vai, como sempre, para o pensamento mercadológico, ao qual a opinião chata e contrária à vontade do público é desinteressante.
Algo no prolixo precisa ser resgatado. Reciclado. Algo, ou quase tudo, no prosaico deve ser extirpado. O homem capaz de construir um mundo equilibrado deve ter a capacidade de ir além do que se vê, mas tem que ser apto a fazer com que os demais vejam o que ele enxerga. Tem que refletir as decisões, mas deve tomá-las. Não deve se restringir ao mundo das idéias, nem ao das emoções imediatas. Não há nada de novo neste discurso. Platão profetizava que o homem ao escalar a caverna e atingir a luz, deveria voltar à escuridão e retirar os demais das sombras ilusórias. Mais difícil que ascender à luz seria imergir novamente nas trevas. Quanto a isto não há dúvida: a salvação não está ao alcance do prosaico, somente do prolixo.
Um comentário:
Discordo do ultimo paragrafo. O prosaico age dessa maneira por achar q está certo, age de maneira soberba por se achar muito superior ao prolixo. O prolixo age assim, por achar comodo, nao se importa em saber. Nao há perspectiva de melhora, para esses. Mas nem todos sao assim, esses tem a total chance de imperar sobre esses outros dois. Mas qm iria qrer isso?!? Assumir o erro e corrigí-lo é mais dificil q muitos pensam...
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