domingo, 24 de fevereiro de 2008

'Fashion Week'

Celebridades, fatos não esperados, reviravoltas, polêmicas e estilo. Essa não foi a fashion week, mas bem que poderia ter sido. Parece que não foi só o relógio que acordou diferente no domingo, nos últimos sete dias vivenciamos momentos históricos – outros nem tanto – que podem representar indicações de quais serão as tendências das próximas estações. Vale a pena fazer um apanhado geral.

No Brasil, o verde está “out”. Pelo menos foi nisso que apostou a população de Tailândia, cidade paraense que impediu o início da apreensão de madeira ilegal da Amazônia, armazenada no município. Após demissões em massa, orquestradas pelas madeireiras para obrigar o povo a lutar por seus empregos, centenas de pessoas chegaram a incendiar um carro para barrar o comboio do Ibama. Já os ministros Tarso Genro e Marina Silva ficaram “beges” de espanto, e preferiram não comparecer.

Na terra de Gisele Bündchen, quem brilhou foi outro top, Lula, que finalmente pôde lançar mão do jargão “Nunca na história desse país” de forma adequada. O “vermelho” ficou para traz, e agora no “Azul”, somos credores. Só falta saber se será azul celeste, ou algum meio “água suja”.

Outro tom em alta é o azul petróleo, que atingiu os US$100 o barril, para a alegria de Hugo Chavez. Após batalha judicial contra a Exxon, o presidente venezuelano declarou que não pretende amarelar, e ameaçou os americanos, já que para eles muito mais negra que a fome, é a ausência de petróleo. Os latinos não pararam por aí. Na terra em que Hittler ascendeu ao poder, Capitão Nascimento virou herói e trouxe para casa o urso de ouro. A farda preta agora é ícone do cinema brasileiro, e ai dos “intelectualóides” que queiram questionar isso.

Os últimos dias mostraram que a camisa verde e amarela está para perder um dos mais ilustres usuários, Ronaldo. Apesar do esforço, o jogador deu sérios indícios de que jogará a toalha em breve. Quem não fará isso é Hillary, que ao ver seu fracasso cada dia mais iminente, se apega com mais força a bandeira rosa-choque. Já o afro-americano Obama escolheu um estilo alternativo – sem cordões de prata e super carros – e tem obtido resultados bem positivos. E ainda assim há quem se pergunte se os Estados Unidos estão prontos para um presidente negro.

Conservadores como sempre, os americanos mostraram que há algo em sua política que não sai de moda, o moralismo. Após ser pego com uma lobista, John McCain está de saia justa. Parece que a ala retrô do Partido Republicano vai ter que engolir mais este sapo se não quiser entregar os pontos.

Voltando ao Brasil, a antológica frase “há males que vêm para o bem” se fez valer novamente. Após a má-fé dos seguidores do Bispo Macedo mover céus e terras contra a mídia, algo de bom veio como resultado, um Ministro do Supremo anulou temporariamente a lei de imprensa. Em pleno século XXI a lei ainda permitia ações como recolhimento de jornais em caso de as edições ferirem a moral e os bons costumes. Coisas um tanto quanto anos 60.

Uma antiga conhecida do povo brasileiro tem ganhado uma cara nova, é a “repaginada” política do pão e circo, que parece se tornar cada dia mais “do circo, e tá bom”. O Timemania vai direcionar 22% dos recursos arrecadados com as apostas para clubes de futebol. Já a seguridade social ficará com apenas 1%. Em ano de eleição, deputados reforçam o novo look da velha política e garantem o maior aumento de verba por meio de emendas para os Ministérios do Turismo e dos Esportes, que têm apelo muito mais circense.

Uma moda que, pelo bem da humanidade, poderia pegar foi lançada pelo Kosovo. Após décadas de subordinação, Sarajevo afirmou sua autonomia com uma caneta e muita alegria. É uma pena que Belgrado e Moscou não tenham ficado muito satisfeitas. Em um ataque de pelancas, Putin chegou a ameaçar barrar a independência a força. Em protestos, a população sérvia atacou a embaixada americana e obrigou Bush a recuar com os diplomatas. Só falta saber o que a nova nação pretende fazer com as minorias étnicas.

Para o fim, o que houve de mais (in)esperado: a mudança de liderança na grife ideológica de Cuba. O antigo guru, Fidel Castro, passou o bastão sem que ninguém esperasse. Como um dos últimos mitos vivos do socialismo, Fidel é imprescindível para o equilíbrio na ilha do modo como ele se dá hoje. Após 49 anos no poder, o líder ficou um pouco fora de moda – apesar da jaqueta da Adidas – mas continua adorado pelos companheiros comunas. O país obteve muitas conquistas, ainda que com métodos controvertidos, porém afundou em uma crise. Agora é saber para que lado do Caribe Cuba boiará. Se entregará à tutela de Hugo Chavez, ou às incertezas de uma transição que irá muito além da política? Todo cuidado é pouco, já que não faltarão grandes marcas de olho na alta escolaridade e no baixo custo da mão-de-obra cubana.

Em uma indústria multi-bilionária como a da moda, mudanças se dão em um único dia, até com um simples acessório. Também é assim no mundo real. Em menos de 24 horas surgem novos paradigmas. Se espera que transformações durem anos, já deve estar um pouco antiquado. Portanto, não se surpreenda se tiver que renovar o seu armário de idéias em breve. Vestir camisas está em alta, mas o valor de suas cores vai muito além da estética. Responsabilidade social, meio ambiente, feminismo, ou seus antagônicos. Há quem as use por serem bonitinhas, e quem as repudie simplesmente pelo mesmo motivo. Ao escolher sua roupagem ideológica, reflita antes de cair no senso comum.

Cheios de pós-modernidades e síndromes de velocidade, vivemos hoje a Idade da Moda. Encare-a como quiser. Com um preto básico, que vai bem em qualquer situação, com um estilo próprio e independente de tendências, ou aderindo ao “in fashion”. Só não a ignore, pois em um mundo de aparências, você é o que veste. Isso é tudo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto Vinicius [/chovendo no molhado]

Mas como já deve estar acostumado, posso fazer duas ressalvas?
1º Vc esqceu q o Vermelho e Preto estao na moda, enqto o Preto e Branco se afoga em lagrimas =P

2º A funçao da Timemania é acabar com as dividas dos times com o Governo e com ese intuito ela foi criada. E sem elas as dividas dos clubes tao cedo nao iam ser pagas. A seguridade social q invente uma loteria pra ela =D.

André Ramalho disse...

Wonderful, great, DI-VI-NO
Boa sacada Vinicius, belo "eixo narrativo"
O blog ta muito bom mesmo
Abraço