sábado, 8 de março de 2008

Xixi na cama

Nem sei porque os homens vão para a guerra. A natureza mostra que as verdadeiras guerreiras do mundo animal são as fêmeas, e a história comprova. “Cada vez mais unânime”, o feminismo se consolidou como uma das principais bandeiras da sociedade moderna. Resultado da luta de milhões de mulheres pelo direito de votar e ser votada, de empregar e ser empregada, e de ser e fazer quem quiser feliz. No entanto, hoje, algumas exigem um direito absolutamente controvertido, o de matar. Matar seus próprios filhos.

A lei brasileira classifica de homicídio doloso a investida intencional que resulta na inatividade encefálica de um indivíduo. Quer dizer, “matar por querer”. O delito ainda pode ser agravado por incapacidade de defesa, motivos repugnantes, ou por corresponder a resposta contra um ato desproporcionalmente pequeno, entre outros motivos. Armar uma emboscada para a vítima é outra forma de alongar a crueldade. Premeditar dá um caráter mais maquiavélico à trama.

Pois bem, imagine um bebê, que ocupa seu tempo “flutuando” no confortável e aconchegante ventre de sua mãe. Não importa se ele tem coração, pulmão, unhas ou apenas uma célula, já que terá tudo o que falta em uma questão de tempo.

Agora pense em um remédio, chá, pílula do dia seguinte, agulha de crochê, magia negra, ou o que seja. Quando a futura genitora decide que não mais dará a luz a sua “cria”, seja qual for a razão, ela não muda o fato de que o peso que será tirado da barriga será infinitamente multiplicado e lançado como um meteoro na consciência, pelo menos teoricamente. Ele estará completamente indefeso, visto que a pessoa que foi encarregada de protegê-lo decidiu dar cabo da tarefa. Qual seria o motivo da punição? E o que fez para merecê-la? Nasceu? Não, nem isso. Nenhum aborto induzido é feito sem querer, alguém teve a intenção de matar, nem que seja outra pessoa. Já que não é acidental nem ocasional, houve o mínimo de planejamento, pelo menos o necessário para chegar ao local do crime, e por em prática a cilada.

Percebeu? “Caracteriza-se então um homicídio quintuplamente qualificado”, pelo menos pelas leis morais. Uma verdadeira lenda no hall dos crimes hediondos. Um recorde que é fruto de trabalho de equipe e muito empenho. Com este invejável posto, uma mãe que o comete deixaria para trás Suzanne Von Richthofen, Beira-Mar, Champinha, Abadia, Al Capone, Maníaco do Parque e tantos outros “amadores” que ficariam degraus abaixo na qualificação criminosa. Nenhuma emboscada jamais será tão eficiente quanto o aborto.

Ainda assim, há quem argumente a favor. O aborto seria uma forma de evitar problemas financeiros maiores para a família? Seria, vender seus filhos também. Há quem diga que seria uma forma de conter a criminalidade. Genocídios idem, menos pessoas resultam em menos criminosos em potencial, nessa lógica. Talvez uma forma de preservar a adolescência das jovens que engravidam. Então por que diminuir a maioridade penal? Só é preso quem pode responder pelos próprios atos, não é verdade? Para os que dizem: “Ah... Em caso de estupro eu sou a favor...” Em caso de estupro já é legalizado.


De fato o aborto é uma solução rápida para muitos problemas que requerem esforços sobre-humanos para a política nacional. Planejar ações, adaptar orçamentos, direcionar investimentos, elaborar leis, votá-las, aplicá-las, fiscalizá-las, melhorar a gestão dos recursos, educar o povo, mudar valores da sociedade, aumentar o acesso a instrução. Trabalhos épicos, dignos de Hércules. É melhor dar um jeitinho, dizer que é questão de saúde pública e que pode ajudar no combate à violência. Chamar uns cientistas para dizer que o fato de se tornar um ser humano no futuro não constitui humanidade no presente. Afinal de contas, eles nem sentem dor.

Ao reivindicar o poder sobre o próprio corpo, a mulher se impõe sobre o mais elementar dos direitos, a vida, e ignora que outro corpo agora a divide com ela. Ser mãe é mais que gerar, que criar, que alimentar, amar ou qualquer outra forma de compreensão. É ter uma ligação estabelecida no ultra-som, na meia do enxoval, no primeiro chute e em todos os outros clichês que constroem o amor. A mulher que aborta, mata mais que o próprio filho, destrói sua maternidade, suas noites mal-dormidas, o xixi na cama, o primeiro dia de aula, febres, festas de aniversário, formaturas, casamento, netos... É o amor que ela aborta.


6 comentários:

Unknown disse...

Ótimo post!! Impressionante a sua facilidade em expor seus pensamentos através das palavras, concordo veentemente com seu ponto de vista. Até a próxima...

Jéssica Magalhães disse...

Caso de saúde pública são as macas e os remédios que faltam nos hospitais públicos, é a falta de espaço para um cidadão com dengue tomar soro.
O aborto é um caso de falta de saúde mental. A mulher,que ao longo da história lutou tanto por liberdade, não consegue ser livre para dizer "sim" a um bebê que lhe foi dado, que está em seu ventre não por escolha própria.
A mulher que aborta, nega o presente de ser mãe e tira a liberdade e o direito a vida do feto. Aliás, que incoerência, aquilo pelo qual ela sempre lutou!
Obrigada pelo texto Vinícius.

Lucas Calil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lucas Calil disse...

Você é um gênio. Indomável, porque não se contenta com a realidade, pelo contrário, luta pela utopia.

Ainda fará história.

Dan Gabriel D'Onofre disse...

Pelo visto acho que sou a primeira pessoa a pensar de maneira contrária a maioria dos comentaristas.

O direito ao próprio corpo é uma das reivindicações feministas até os dias de hoje. Creio que a mulher, mãe ou não, mais do quem ninguém é a principal interessada quanto ao que diz respeito sobre o futuro do embrião, o qual se encontra dentro de si durante cerca de 9 meses de gestação. Até que se prove o contrário, o mesmo embrião só passa a ter atividade cerebral após 12 semanas de gestação, ou seja, quanto a indivíduo protegido pelos direitos garantidos sob Constituição, o EMBRIÃO não tem direito à vida assegurado porque só se assemelha a um ser humano quando passa a apresentar atividade cerebral.
Resumindo, caso fôssemos nos basear nas pesquisas da biomedicina, o aborto deveria ser totalmente legalizado. Assim como na Cidade do México onde o aborto é legalizado até as 12 semanas de gravidez e em Portugal, um país que se auto-intitula católico, até a décima semana de gestação.


O artigo está muito bom, Vinícius. Meus parabéns!!!

Unknown disse...

Aqui vai minha opinião (mesmo que eu esteja sendo incoerente com a minha própria "futura" área de atuação: mesmo que em nenhum momento tenha sido responsável por engravidar, a mulher simplesmente não tem o direito de interromper o desenvolvimento de uma vida. O ser humano já evoluiu muito, e é perfeitamenete capaz de criar soluções mais humanas e inteligentes para resolver várias situações delicadas como esta. O embreião deve ser encarado como algo maior que um simples aglomerado de células organizadas, pois ainda existem fenômenos que a ciência não consegue explicar.

Quanto ao texto, é digno de uma matéria de jornal. Meus parabéns!