Eis me aqui leitor para falar de futebol. Aviso que não se trata de uma de minhas especialidades, se é que tenho alguma, nem de meus maiores interesses. Portanto, não espere análises táticas das escalações, críticas à arbitragem ou prospectos do jogo. O que direi parte de um leigo, que apesar de desconhecer as minúcias do esporte, não pôde deixar de observar certa anormalidade.
A última quinta-feira amanheceu com tons de verde e grená. Esporadicamente algum laranja mais agressivo era visto entre as calçadas e carros, representando uma multidão que talvez só agora reconheça a própria existência. Por mais que neguem o espanto, os amargurados rivais, que não tiveram uma noite tão boa, notam algo de estranho nas ruas fluminenses. A massa tricolor, nomenclatura que não caberia em outras épocas, domina a paisagem em um renascimento que é, diga-se de passagem, admirável.
Aos que não compartilham da mesma euforia, fica um sentimento estranho, algo que poderia ser inveja, com sua larga lista de sinônimos e eufemismos. Nas mentes, as informações não foram devidamente processadas, os antigos padrões de probabilidade e aceitabilidade de um fato travam o meio de campo. Fica a sensação de que houve uma subversão, uma quebra na ordem natural das coisas. A chegada à final da Libertadores não mexe somente com a torcida do Fluminense, contradiz tabus de impossibilidade que obrigam os demais a tentar entender tal nova conjectura.
Um certo receio ainda possui a mente dos tricolores, desacostumados a grandes façanhas, porém é sufocado por uma fé reinventada, recuperada dos tempos de sucesso do clube. A vitória sobre o Boca Juniors não foi simplesmente um jogo, foi uma realidade nova que se impôs. O gigante argentino foi derrubado com muito custo, mas derrubado. Toda a coerção que fazia os próprios jogadores recearem, mostrou que é apenas coerção.
Eu, resignado torcedor botafoguense, não pude evitar uma inexplicável alegria ao ver a ruptura paradigmática. O Fluminense, visto por mim como um time fatidicamente perdedor como o meu, está agora na final do campeonato continental de clubes. O que mais assusta, é que os tricolores de fato acreditam na vitória, e têm toda a razão. Os quase 80 mil revolucionários que encheram o Maracanã tinham ânsia, e não lhes bastaria nada, senão a queda da Bastilha. Em minha concepção pessimista do esporte, duvidaria da vitória sobre o hermano opressor, mesmo depois de presenciar o resultado, e, vendo o Botafogo na final, acharia óbvio que o único motivo de tão longas braçadas e pernadas seria morrer na praia com requinte de crueldade.
Viagens à parte, não posso deixar de fazer uma observação, que justifica o primeiro texto de futebol do blog: não é bom subverter a ordem? Os puritanos que não compreendam mal o sentido em que uso tão maldito verbo. O Fluminense deixa a lição de que nem tudo o que é, precisa ser eternamente. De que é possível superar, mudar e evoluir. De que os invencíveis inimigos talvez não sejam tão poderosos quanto assustadores. E de que a ordem natural das coisas, caso incômoda, deve e pode ser subvertida. Se, apesar da histórica vitória, os tricolores não vencerem a LDU, que não se perca esse aprendizado. Que não retornemos a estaca zero a zero, em que o empate parece confortável para todos.
Contentem-se com tal crônica, pois aqueles que já "penduraram as chuteiras" e caminham pelos Campos Elísios com certeza deleitam-se agora com um belíssimo texto, escrito orgulhosamente por um dos maiores tricolores, Nelson Rodrigues.
A última quinta-feira amanheceu com tons de verde e grená. Esporadicamente algum laranja mais agressivo era visto entre as calçadas e carros, representando uma multidão que talvez só agora reconheça a própria existência. Por mais que neguem o espanto, os amargurados rivais, que não tiveram uma noite tão boa, notam algo de estranho nas ruas fluminenses. A massa tricolor, nomenclatura que não caberia em outras épocas, domina a paisagem em um renascimento que é, diga-se de passagem, admirável.
Aos que não compartilham da mesma euforia, fica um sentimento estranho, algo que poderia ser inveja, com sua larga lista de sinônimos e eufemismos. Nas mentes, as informações não foram devidamente processadas, os antigos padrões de probabilidade e aceitabilidade de um fato travam o meio de campo. Fica a sensação de que houve uma subversão, uma quebra na ordem natural das coisas. A chegada à final da Libertadores não mexe somente com a torcida do Fluminense, contradiz tabus de impossibilidade que obrigam os demais a tentar entender tal nova conjectura.
Um certo receio ainda possui a mente dos tricolores, desacostumados a grandes façanhas, porém é sufocado por uma fé reinventada, recuperada dos tempos de sucesso do clube. A vitória sobre o Boca Juniors não foi simplesmente um jogo, foi uma realidade nova que se impôs. O gigante argentino foi derrubado com muito custo, mas derrubado. Toda a coerção que fazia os próprios jogadores recearem, mostrou que é apenas coerção.
Eu, resignado torcedor botafoguense, não pude evitar uma inexplicável alegria ao ver a ruptura paradigmática. O Fluminense, visto por mim como um time fatidicamente perdedor como o meu, está agora na final do campeonato continental de clubes. O que mais assusta, é que os tricolores de fato acreditam na vitória, e têm toda a razão. Os quase 80 mil revolucionários que encheram o Maracanã tinham ânsia, e não lhes bastaria nada, senão a queda da Bastilha. Em minha concepção pessimista do esporte, duvidaria da vitória sobre o hermano opressor, mesmo depois de presenciar o resultado, e, vendo o Botafogo na final, acharia óbvio que o único motivo de tão longas braçadas e pernadas seria morrer na praia com requinte de crueldade.
Viagens à parte, não posso deixar de fazer uma observação, que justifica o primeiro texto de futebol do blog: não é bom subverter a ordem? Os puritanos que não compreendam mal o sentido em que uso tão maldito verbo. O Fluminense deixa a lição de que nem tudo o que é, precisa ser eternamente. De que é possível superar, mudar e evoluir. De que os invencíveis inimigos talvez não sejam tão poderosos quanto assustadores. E de que a ordem natural das coisas, caso incômoda, deve e pode ser subvertida. Se, apesar da histórica vitória, os tricolores não vencerem a LDU, que não se perca esse aprendizado. Que não retornemos a estaca zero a zero, em que o empate parece confortável para todos.
Contentem-se com tal crônica, pois aqueles que já "penduraram as chuteiras" e caminham pelos Campos Elísios com certeza deleitam-se agora com um belíssimo texto, escrito orgulhosamente por um dos maiores tricolores, Nelson Rodrigues.
* Imagem retirada de www.marcelomoutinho.com.br
3 comentários:
Para invejar o Fluminense, sob qualquer aspecto, bem, apenas sendo botafoguense mesmo. Não é da época do post, mas vale lembrar que o tricolor das laranjeiras venceu os poderosos São Paulo e Boca Juniors para depois perder para a sigla, digo, para o time da LDU, sua maior façanha. Quanto a vencer competições internacionais, bem, isso é coisa para Santos, Internacional, Grêmio, São Paulo...
Brincadeiras futebolísticas à parte, o que faltou ao Fluminense foi um pouco de humildade e, na condição de clube desacostumado a conquistas internacionais, uma final de Libertadores lhe saltou aos olhos como se aquilo não fosse condizente com a grandeza do clube. Os torcedores criam na vitória, mas o pensamento interno do "será mesmo verdade? vamos ganhar, enfim, algo desse naipe?" foi capaz de provocar a amarga (e nem tão surpreendente) derrota para a Liga equatoriana. Parabéns pelo blog.
Obrigado pelo Parabéns e pelo comentário...
Humildade é algo que falta a torcedores de qualquer time... menos a mim, na condição de alvinegro pessimista rs. Torci muito pelos meus conterrâneos tricolores e fiquei bem chateado com a derrota. pelo menos eles chegaram perto de algo "desse naipe" rsrs e torci muito para a LDU ser zebra em Tóquio também. Se bem que, aqui, a final foi uma zebra dupla rsrs
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