A complicada situação posta acima é uma explicação superficial da causa do conflito entre judeus e muçulmanos no Oriente Médio, mas, por si só, não dá conta de toda a questão. Desde a criação de Israel, em 14 de março de 1948, quando os judeus se declararam nação, guerras aumentaram o rancor entre os dois lados e intensificaram a disputa pela terra, santa para ambos. Com o apoio do Ocidente, Israel saiu vitoriosa de todos os conflitos e pôde realizar ações militares duvidosas, como a mais recente incursão em Gaza.
Recentemente, o panorama político na região está se modificando. As eleições do parlamento israelense derrubaram de vez o partido trabalhista e deram o poder à direita. O Likud (direitista) e o Kadima (centrista), os dois mais votados, não chegam a um acordo sobre a formação do governo, apesar dos apelos do presidente Shimon Perez. A extrema-direita ganhou força e os três maiores partidos árabes também avançaram no Congresso. O discurso extremistas e anti-palestino tem se fortalecido e o apoio popular às invasões também.
A população israelense sabe que vive cercada de inimigos por todos os lados. O Hizbollah causou a última crise entre os judeus e o Líbano, “resolvida” por Israel com o método já conhecido pelo país, o militar. Os foguetes do Hamas levaram ao mesmo desconforto e à mesma reação desproporcional hebraica, o bombardeio a Faixa de Gaza, que matou mais de 1,5 mil palestinos. O Irã e a Síria, vizinhos malquistos pelo país, também são vistos como ameaça, o que não é gratuito. Os dois governos já manifestaram seu repúdio às ações de Israel, e sequer reconhecem a existência da nação. Em uma de suas declarações mais marcantes, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad afirmou que varrerá Israel do mapa. Ehud Barak, ministro da defesa israelense, por outro lado, garantiu que seu país irá às últimas consequências para impedir que o Irã tenha armas nucleares.
Antes inimigos, os partidos Hamas e Fatah, que detêm o controle da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, respectivamente, reataram os laços e se uniram para fortalecer os palestinos, que a cada dia conquistam mais aliados no cenário internacional, como a Venezuela, que expulsou o embaixador israelense com o início da invasão. Na Europa, há um consenso de que apesar de ameaçada, Israel reage de modo desigual e desnecessário. A União Européia foi um dos maiores opositores ao mais recente ataque e representantes dos maiores países do bloco visitaram a região para negociar a paz. Os EUA, maiores aliados no Ocidente, agora são governados por Obama, cujo discurso não é tão pró-Israel quanto o de seus antecessores. Atritos com a ONU e até mesmo com a Igreja Católica contribuem para prejudicar a imagem dos israelenses no panorama internacional. Israel também enfrenta problemas internos. Os judeus estão divididos entre os moderados e os exaltados. Por outro lado, a população muçulmana cresce e expande sua influência política.
Diante de tantos obstáculos, o povo judeu tem como maior desafio a paz, não uma paz imposta militarmente, mas uma negociada e que beneficie a todos. Israel deve impedir que o revanchismo e o ódio norteiem seu governo e evitar ações agressivas que matam mais civis inocentes que terroristas. Ao invés de muros, deve-se construir pontes. O Oriente Médio precisa de líderes dispostos a lidar com grupos extremistas sem perder a consciência de que o Estado não pode se igualar a eles nem abrigá-los. O Oriente Médio precisa de diplomacia responsável e comprometida com o bem-estar de toda a região, para que não se fale mais em holocausto na Terra Santa.