quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

2008

5... 4... 3... 2... 1...


Enquanto, em segundos, passávamos do passado para o futuro, era inevitável o choque entre lembranças e expectativas, entre feitos e planos. Recordar tudo de importante que ocorreu em 2008 é uma tarefa impossível. Todos os avanços, retrocessos, tragédias, glórias, surpresas e frustrações. Não há como dizer se o ano foi bom, mas, sem dúvidas, é possível afirmar que foi inesquecível.

Escândalos: Cartões deixaram no vermelho a credibilidade do governo. Certificamo-nos de que a corrupção não tem preferidos: sindicalistas, banqueiros, reitores, policiais, jornalistas e ministros, todos fizeram a sua parte. Dossiês detonaram uma onda de desconfiança. Informantes, grampos, espionagem, ninguém estava a salvo. Operações cinematográficas prenderam. Decisões controversas soltaram. Instituições mediram forças. Prefeitos eleitos viram cair por terra suas vitórias. A Justiça teve de abrir os olhos diante da cegueira da população. O passado de vereadores ficha suja não impediu que votações expressivas os glorificassem e estas, por sua vez, não evitaram que medidas judiciais os derrubassem. Mais 7.343? Para quê?

Na América Latina, a política ficou picante. Cai Fidel, se fortalece Chavez. As Farc se viram diante de uma campanha internacional contra sua existência. Invasão de território: Colômbia e Equador quase perderam as estribeiras. O Mercosul mostrou o muito que ainda falta progredir. Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil, Venezuela: Faltou consenso, sobraram alfinetadas. No Equador, a represa da Odebrecht rompeu relações entre os hermanos e os tupiniquins, mas o calote anunciado foi apenas um susto. Superadas (?) as turbulências, os líderes regionais se reuniram para a confraternização de fim de ano na Bahia. Sem EUA e Europa, testemunhamos o Brasil encabeçar o encontro e mostrar que tem representatividade no continente. Será?

Sem exageros, presenciamos um ano de transformações globais. Um negro toma posse da casa dos brancos nos EUA. No ninho do pássaro nasce a China potência, extravagante, controversa e grandiosa. À frente da UE, Sarkozy mostra (ou tenta) a força do bloco e sua autonomia e influência diplomática. Golpe de estado na Guiné, genocídio no Sudão, cólera no Zimbabue, pirataria na Somália. A África continua a sangrar as conseqüências da ambição alheia. Grécia e Tailândia viram a força do povo. Rússia e Israel atacaram sem piedade vizinhos menores. No Iraque, o fim da guerra já é anunciado. Em Gaza, promete-se sua continuidade. No mundo globalizado, brasileiros são barrados na Espanha. Na economia mundial, a crise assusta.

Citigroup, Lehman, GM, Toyota, Panasonic, Vale, Peugeot e até o New York Times. Em quem ainda acreditava na lógica do sistema capitalista, ele próprio deu uma rasteira. Seria o fim do sonho americano? Montadoras pedem socorro, bancos pedem concordata e milhares pedem empregos. A recessão bate a porta e entra sem cerimônia: EUA, Reino Unido, Espanha, Japão, Alemanha, Itália, Canadá. Nem o paraíso escapou: Islândia, medalha de ouro em IDH, viu as ações de seu maior banco virarem pó. Argentina mergulhou novamente no abismo. China e Rússia viram a economia desacelerar. E o Brasil, está seguro? Petrobrás reviu projetos, o dólar despencou e o crescimento caiu. A Bovespa teve a pior desvalorização em décadas. Queda também no petróleo. Às pressas, a Opep diminuiu a oferta, mas viu o barril chegar a casa dos US$30. 2009 é aguardado com previsões sombrias.

A natureza foi implacável. Nevascas na América do Norte, terremotos na Ásia, secas na Austrália. Foram 220 mil mortos em desastres naturais. No Brasil, o clima enlouqueceu. Tempestades e estiagens se revezaram no território nacional. Minas, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Poucas vezes se viu tanta chuva. Desacostumado a assistir catástrofes no próprio território, o brasileiro ficou chocado com a tragédia, mas não se calou. Toneladas de doações fizeram milagres entre os flagelados. Em Bangladesh as proporções foram gigantescas, 1,2 milhão de desabrigados. Na China, ainda maiores: 80 mil mortos em um único terremoto. O recado foi dado, mas quem pesará mais na mesa dos líderes mundiais: a crise ou o clima?

Na mídia, o noticiário virou novela. Dramas pessoais explorados à exaustão se tornaram nacionais. Isabela Nardoni, Eloá, João Roberto, Daniel Duque e tantas outras vítimas jovens emocionaram o Brasil e ocuparam espaço constante na comunicação de massa. Estaria o brasileiro cansado ou acostumado com a violência? Bebês abandonados, crianças torturadas, babás agressoras. Os casos precisaram ser cada vez mais hediondos para ganhar destaque.

Assim como todo ano, 2008 não acabou. O intervalo entre 1º de janeiro e 31 de dezembro nada mais foi do que a continuação de processos sociais e de transformações, que seguem rumo em 2009, 2010 e sucessivamente. Caem paradigmas e novos se erguem. Não em 365 dias, mas em décadas e séculos. Um ano, por mais que não caiba em post de blog, é apenas um recorte.

Após um texto como este, só cabe a mim desejar um Feliz 2009!

Nenhum comentário: