domingo, 18 de janeiro de 2009

Omeletes e Maquiavel



Uma decisão do nosso ministro da Justiça tem gerado uma situação, no mínimo, embaraçosa entre Brasil e Itália. Para quem não tem acompanhado a mídia, uma situada: Tarso Genro se negou a deportar o italiano Cesare Battisti, que foi condenado por terrorismo. O ex-militante foi acusado de participar de movimentos radicais de esquerda, que fizeram vítimas no país na década de 70. Preso pela PF em março de 2007, Battisti continua em uma prisão de Brasília.

O caso possui uma diversidade de poréns que devem ser analisados antes que se diga que o Brasil está abrigando um terrorista, e, também, muito antes que se afirme que estamos socorrendo um herói revolucionário. Seria a decisão de Genro, um corporativismo ideológico? Mais uma vez o governo Lula faz uma questionável manobra diplomática com motivos que beiram a simpatia política. Vale lembrar o amparo dado aos governos esquerdistas da América Latina, que vivem espezinhando o Itamaraty. Há erros e acertos na política externa brasileira, e, principalmente, leviandade em muitas afirmações feitas na mídia. Voltando: Seria uma questão de direitos humanos por Battisti não ter participado de seu próprio julgamento? Seria simplesmente um desafio a um pais desenvolvido como a Itália, o que “““““reforçaria””””” nossa ascensão como força política mundial? Não entrarei no mérito de nenhuma das questões.

Chamou-me a atenção ouvir um argumento da defesa do italiano. Alegou-se que Battisti cometeu crime por motivos políticos, e que por isso, não deveria ser preso. Separando a discussão do caso particular da esquerda ex-radical italiana, e tratando do assunto mais genericamente: vale cometer crimes em nome de supostas transformações políticas e sociais? Em busca do fim de regimes opressores e injustos? Em defesa dos direitos humanos, da liberdade e da democracia? Até onde a bandeira de uma ideologia pode nos levar, e até onde uma motivação positiva deve gerar concessões?

Ao longo da história, processos sangrentos foram o principal motor de propulsão das transformações. Revoluções Francesa, Russa, Chinesa, Cubana; Independência dos EUA, Haiti, México. Sem falar de guerras que alteraram o panorama global e tantas outras disputas que banharam de sangue os manifestos e panfletos políticos.

Nem entro no mérito de atos de vandalismo, falo apenas de ações que vitimizam pessoas. Em nome de um país mais justo, valem chacinas na classe dominante, fuzilamento de congressos, ataques terroristas contra civis, e tantas outras atrocidades que desrespeitam os direitos humanos?

Há quem diga que não se faz uma omelete sem quebrar os ovos, ou que os fins justificam os meios, ou que sacrifícios são necessários. Penso também no Hamas, que contra a repressão israelense tem cometido barbaridades. É legítima a reação violenta do oprimido contra o opressor? Não chego a conclusões definitivas.

Penso que a vida é o maior de todos os bens a ser preservado. Penso que a violência em nome de causas nobres ainda é violência. Penso que não se podem abrir concessões em princípios conforme pedem as circunstâncias. Caso contrário, seria a favor dos homens-bombas, dos mísseis contra Israel, da caça aos nobres na Noite do Terror, do tratamento desumano a criminosos em morros cariocas, dos atentados de 11 de setembro e de tantos outros episódios engajados e sombrios de nossa história.

Apesar disso, reconheço que sem luta não se teriam derrubado as ditaduras na América Latina, não se extinguiria o Feudalismo, não se acabaria a colonização européia ao redor do mundo nem se poderia conquistar a democracia em incontáveis países. Mas a luta não necessariamente precisa ser um banho de sangue e terror em grande parte do planeta. Com um “sistema democrático” consolidado, muitas nações já podem reformar suas estruturas e fazer belas omeletes sem quebrar ovos. Para os mais afoitos e radicais, creio que tal afirmação não sirva de consolo. Entre dar início a mudanças radicais, por meio de processos violentos, que não têm previsão de onde parar, e poupar vidas, fico com a segunda opção.

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