domingo, 21 de fevereiro de 2010

Atena X Einstein

Vagando erroneamente pela internet neste domingo de manhã, me deparei com um site provocativo. “Teste de QI do Einstein”, anunciava. Pois bem, como eu já ouvira falar e mais uma vez li, o exame é impossível para 98% da população mundial. (!!) Isso mesmo, 98%. Enquanto tentava descobrir de que nacionalidade era o homem que morava em cada uma das cinco casas, quais eram suas bebidas e animais de estimação, me bateu uma dúvida: O J.J. Abrams passaria neste teste?

Para quem não sabe, J.J. é roteirista de Lost, simplesmente o roteiro mais trabalhado que já assisti. Logo, pode-se concluir: ele é um gênio. Mas, Einstein, que também é inegavelmente um gênio, restringiu seu grupo de olimpianos a apenas 2% da população mundial. E esta ínfima parcela de 140 milhões de pessoas – uma Rússia inteira de crânios – seria definida por quem acerta a casa, a nacionalidade, o animal, a bebida e o cigarro dos cinco homens citados no teste (se é que o teste que eu achei é o real).

Citando uma pessoa menos questionável: e se Dostoiévski não acertar? E se Van Gogh, Camões, Graham Bell, Gandhi e Platão errassem uma das casas? E se Mozart não adivinhasse que animal pertencia ao norueguês e Darwin se enganasse quanto à marca do cigarro?

Já há teorias que diferenciam as genialidades de Machado de Assis e Isaac Newton. Isso não é novidade. Mas, afinal, o que é ser inteligente?

Bom, um amigo meu só tirava notas boas na escola. Tinha boas idéias para os trabalhos e facilidade de aprendizado. Seus amigos, ao descrevê-lo, sempre recorriam ao adjetivo inteligente, e nada mais que isso. Este meu amigo passou no vestibular em uma bela colocação e manteve o desempenho da escola no ensino superior, quando passou a ser descrito por suas notas. Um dia, questionou: o que há de genial em gastar a vida no cultivo de números? O que há de genial em saber nomes, gravar datas, articular palavras e tratar de assuntos que em nada tocam nem modificam a realidade em que se vive? Que números e nomes são estes que definem quem eu sou? Felizmente, este meu amigo descobriu que seu conceito de inteligência era uma futilidade tão desnecessária quanto a dos que medem os centímetros de seus bíceps em frente ao espelho e tão burra quanto a de quem tem em seu contracheque o seu maior orgulho.

Inteligência, para este meu amigo e para mim, não é raciocínio lógico. Não se mede pelo volume de conhecimento acumulado, nem pela criatividade de ver além do óbvio. Penso que a inteligência é uma sensibilidade, uma percepção, uma capacidade de interpretar o mundo de forma crítica, de se descolar da vaidade e dos desejos. Inteligência para mim é sabedoria, e não QI, cultura ou portfólio.

Tenho uma visão bem grega do que é a sabedoria. Atena, deusa desta qualidade, muitas vezes é descrita como a divindade da justiça, e isso não é um equívoco. Para os gregos, as duas virtudes são sinônimas. Ainda que se possa questionar a justiça helênica, o conceito se adéqua às minhas necessidades. Mais inteligente, para mim, é o que busca ser justo e sábio, é o que tem a sensibilidade de não se levar pelos sentimentos menores e o que usa o cérebro com fins coletivamente úteis, sem se apegar a vaidades e ilusões de superioridade. Se inteligente for o que se presta a futilidades intelectuais, burras serão a ciência e o conhecimento, pois serão reduzidos ao mesmo patamar que grifes e acessórios, terão o mesmo valor que músculos e servirão menos que conversíveis vermelhos. Sinceramente, espero que estes gênios sejam muito mais que 2%.

PS: Como você deve supor, faço parte dos 98%.

2 comentários:

Lucas Calil disse...

Fins úteis para que coletividade?

Fillipe disse...

E esse teste é ridículo de fácil, muito mais tranquilo fazer isso do q defender uma visao grega de sabedoria :p