sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Inovar é mesmice

Desde o desfile pop com o carro do DNA, venho acompanhando o trabalho do Paulo Barros. Como amante do carnaval da Sapucaí, confesso que recebi toda aquela ausência de plumas e esculturas com muita desconfiança. Depois vieram a bateria no carro, a alegoria de ponta cabeça, as originais aparições de E.T. e Wolly, os caixões coreografados no carro do Drácula e outras inúmeras idéias sem precedentes. Quando a Tijuca entrou na avenida neste ano, sentei com grande expectativa em frente à TV para conferir qual seria a nova peripécia do Oswald Andrade do samba, e não me decepcionei. O título mais do que merecido me fez pensar em como a inovação se tornou uma exigência cotidiana, seja ela mercadológica ou não.

Sejamos nós os publicitários das Havaianas ou os vendedores de bala em ônibus, estamos submetidos a esta exigência da vida moderna. Como diz meu colega de república, faculdade e estágio, até pedir esmola tornou-se uma atividade pouco rentável sem piruetas, jingles, trabalhos artísticos ou encenações dramáticas pouco convencionais. Nos cursinhos, professores têm que inventar “musiquinhas” para a tradicional decoreba, poemas matemáticos, aulas mais cinematográficas e até piadas de humor negro e didático. O que dizer então do mundo pop? Com uma ascensão meteórica, Lady Gaga já está tão à frente de nossa época que parece saída do fim dos tempos. Guardadas as proporções, até o Big Brother tem que reinventar detalhes a cada edição para não ter quedas ainda piores de audiência. No Twitter, a guerra é para fazer a piada original em tempo real e, na religião, uma denominação inovadora surge a cada esquina com novos rumos para o cristianismo.




E nós? Bom, nós somos massacrados pelo choque com idéias novas a cada momento. E vale lembrar que nem tudo o que inova melhora. Aceleramos de tal forma a locomotiva do novo que mal aproveitamos o potencial da sugestão de semana passada, que já parece repetitiva sete dias depois. Os referenciais mudam tão depressa, que já não há mais tempo ao menos para identificá-los. Não me darei ao trabalho de esmiuçar a Modernidade Líquida de Bauman, mas saibam que o tema já é objeto de estudo de acadêmicos desde o século passado, que já parece distante o suficiente para ser chamado assim sem estranhamento.


Há um limite para a criatividade? É o que sempre questiono diante de tantas criações. Haverá um ponto em que não teremos mais nada de novo a inventar? Não sei. Um dia, quem sabe, alguém será chamado de gênio quando disser o quanto é inovador não inovar. Então, nos voltaremos ao démodé e perceberemos quanta coisa boa e útil ficou para trás. Bom, esta é a minha idéia. Se quiser inovar, procure a sua.

5 comentários:

Cássio Taranto disse...

Vinicius, é incrível como você soube articular as suas ideias e transmiti-las de uma maneira interessante e eficaz. Comunicação efetuada. O ser humano se reinventa, inova e evolui. Mas quem disse que evolução é sinônimo de progresso?
Bom trabalho, rapaz!

Paulo Junior disse...

Pois é, eu digo (brincando) que até pedinte agora tem que inovar, encenar e tal. Seria cômico se não fosse trágico.

Muito bom o post! Acho que foi o melhor texto seu que já li até o momento!

Uma observação: será que existem mais inovações no mundo ou elas apenas estão tendo a oportunidade de serem praticadas e partilhadas? A meu ver, esse "boom" de ideias novas só pôde acontecer devido ao processo de globalização.

Quantas propagandas não nos provocam a ser "inovadores"? Um monte. No campo publicitário, esse é um discurso ultrapassado.

Atualmente, o indivíduo inovador é aquele que não se destaca por ser assim.

Anônimo disse...

Vinínius, amei o texto!!
Muito bom mesmo.

Luã disse...

Excelente texto, muito bom mesmo.

Com o perdão do neologismo esdrúxulo, já faz tempo que eu digo que o verbo do momento é mirabolar.

Fillipe disse...

Oi, eu sou a politica capitalista de desenvolvimento.

Ser diferente é normal.